Nossa percepção nos engana. Muitas vezes, o que pensamos que estamos vendo não é o que parece, e um exemplo disso, temos no caso curioso do efeito Abney.
Descoberto no início do século passado, esse efeito ocorre quando, ao aplicar a luz branca sobre a mesma cor, ela é percebida com um tom diferente, como se tivesse mudado o matiz ou a saturação.
A seguir, entraremos em mais detalhes sobre o efeito Abney, quem o descobriu e a explicação fisiológica por trás de um fenômeno tão curioso.
Qual é o efeito Abney?
O efeito Abney é a mudança percebida no tom que ocorre quando a luz branca é adicionada a uma fonte de luz monocromática. Ou seja, envolve ver de outra tonalidade de cor para uma cor, com subtons e saturação específicos, quando mais iluminação é aplicada. A adição de luz branca psicologicamente produz uma dessaturação da fonte monocromática, fazendo com que a cor pareça ter mudado de matiz e saturação, embora a única coisa que tenha acontecido é que agora ela tem maior luminância.
A natureza desse fenômeno é puramente fisiológica e não física. É contra-intuitivo para o olho humano perceber um tom de outra cor quando a luz é adicionada a ele., Já que o mais lógico seria ver essa mesma cor sozinha como mais brilhante. Por exemplo, a cor marrom é na verdade apenas um vermelho-alaranjado opaco que, quando a luz branca é aplicada, se torna essa cor. Dá a impressão de que temos uma nova cor, ou que o marrom ficou laranja, quando na verdade sempre foi laranja.
Este fenômeno foi descrito pela primeira vez em 1909 pelo químico e físico inglês Sir William de Wiveleslie Abney. Ele descobriu que ao aplicar uma fonte de luz branca das três cores primárias de luz, ou seja, vermelho, azul e verde, era possível induzir mudanças na percepção de certas cores, embora permanecessem essencialmente as mesmas nuances.
Diagramas de cromaticidade
Para entender melhor esse fenômeno, é necessário falar um pouco sobre uma ferramenta utilizada na teoria das cores. Os diagramas de cromaticidade são diagramas bidimensionais nos quais as cores são representadas em coordenadas XYZ. Os valores X, Y e Z, ou valores de três estímulos, são simplesmente usados como valores para criar novas cores a partir das cores primárias da mesma forma que o modelo RGB é usado.
Neste tipo de diagrama, dois aspectos das cores são representados: matiz e saturação. O matiz é a própria cor ou a cromaticidade, representada ao seu redor é a cor do verde puro, vermelho ou azul quando falamos de cores claras. Saturação é o grau de intensidade da cor, variando do mais claro ao mais intenso. O que não está representado nesses diagramas é a iluminância ou luminância da cor.
As cores nos diagramas de cromaticidade são representadas em linhas e colunas. Por exemplo, as linhas podem representar matizes (azul, azul esverdeado, turquesa, verde …) enquanto as colunas podem representar a saturação, de tons mais claros a tons mais saturados. O efeito Abney ocorre quando, ao aplicar luz branca nessas cores, as alterações são percebidas como se os matizes ou saturações delas tivessem mudado.
Voltando ao caso anterior, o marrom e o laranja avermelhado são da mesma cor, com o mesmo grau de matiz e a mesma saturação, mas com diferentes graus de iluminação. Em um diagrama de cromaticidade, duas cores seriam iguais, laranja avermelhado. Seria quando a iluminação fosse modificada, seja ela mais ou menos intensa, que a cor percebida seria diferente, sendo o marrom o resultado de um laranja-vermelho com pouca iluminação.
É por isso que os diagramas de cromaticidade são tão úteis para detectar cores que, mudando apenas a iluminação, eles são percebidos como novas cores em um nível psicológico. É graças a esses instrumentos e simplesmente focalizando a luz branca sobre eles que podemos detectar quais cores nosso CÉREBRO interpreta como se fossem tons diferentes.
Fisiologia do fenômeno
De acordo com o modelo do processo oposto do sistema visual, três canais neurológicos estão envolvidos na percepção das cores: dois canais cromáticos e um acromático. Os canais cromáticos consistem em um canal que percebe o vermelho e o verde (canal vermelho-verde) e um canal que percebe o azul e o amarelo (canal amarelo-azul), sendo este último responsável pela percepção dos próprios tons. O canal acromático é o responsável pela luminância, vendo quão próxima a cor está do branco ou do preto.
Matiz, saturação e iluminação são percebidas por meio da atividade articular e variada desses três canais neurológicos, que consistem em vias axonais das células ganglionares da retina. A atividade desses três canais está intimamente relacionada ao tempo de reação da resposta de cor. Algumas atividades dependem de um ou de outro canal, ou ambos os tipos estão igualmente envolvidos. O canal acromático tem uma taxa de resposta mais rápida do que os canais de cores, na maioria das condições.
Existe uma situação específica em que o canal acromático emite uma resposta mais lenta do que os canais de cor, e é quando a luz branca é adicionada a uma cor que já foi observada. O canal acromático mostra um tempo de resposta ligeiramente mais curto do que em condições sem luz forte. Porém, sua amplitude de resposta será mais forte do que cromática, dando lugar a uma falsa percepção.
Não sabemos porque podemos ver a mesma cor como se fosse outra de acordo com a luminância. A sensibilidade espectral do observador, o número relativo de cada tipo de cone ou a idade do indivíduo não parecem ser fatores que influenciam a intensidade da percepção das diferentes tonalidades. O que fica claro é que a luz do ambiente em que você está influencia de forma significativa, fazendo com que a mesma imagem tenha uma cor diferente, como se vê em ilusões como o vestido azul ou branco.
Isso explicaria por que os julgamentos de cores variam com base nas diferenças no ambiente de cores ou na exposição a uma determinada cor. Também pode ser devido ao tempo que os cones da retina têm sido estimulados, fazendo com que, por um curto período, não dêem um sinal adequado quando diferentes tipos de comprimentos de onda os afetam.
Referências bibliográficas:
- Pridmore, R. (2007) Effect of Purity on Hue (Abney Effect) under Various Conditions “Research and Application of Color. 32,1: 25-39.
- W. por W. Abney. (1909) Sobre a mudança de matiz das cores do espectro por diluição com luz branca. “Proceedings of the Royal Society of London. Series A, contendo artigos de natureza matemática e física.