Transposição didática: características desse processo de ensino

A transposição didática é um processo no qual o conhecimento científico ou acadêmico passa por uma série de transformações. para adaptá-lo a um nível menos técnico, acessível para alunos não especialistas. Em outras palavras, consiste em modificar um conhecimento sábio ou aprendido para torná-lo plausível para ensinar.

Essa ideia foi levantada originalmente por Michel Verret (1975) e posteriormente reintroduzida por Yves Chevallard, um teórico da didática da matemática que inicialmente a aplicou a esta disciplina, embora posteriormente esse conceito tenha sido extrapolado para outras áreas do conhecimento.

Este processo é de grande importância no ensino porque, se feito de forma adequada, será possível dotar os alunos de conhecimentos úteis, atuais e científicos, mas sem abusar do tecnicismo ou de informações demasiado especializadas.

Em que consiste a transposição didática?

Conhecimento acadêmico ou científico é aquele obtido e desenvolvido por instituições especializadas em determinada área do conhecimento, como biologia, química, psicologia, entre outras. Por ser um conhecimento muito técnico, deve ser modificado de forma que possa ser apreendido por pessoas não especializadas no assunto.

A transposição didática envolve uma série de fases nas quais o conhecimento científico é gradualmente adaptado ao nível dos alunos. Este conhecimento é modelado de acordo com os objetivos do programa proposto pelas autoridades educativas e tanto os autores dos manuais como os próprios professores da mesma turma estão envolvidos neste processo, proporcionando o conhecimento “útil para os alunos”.

O conhecimento científico está sujeito a duas transformações principais. Primeiro, ele é modificado para que possa ser ensinado e transformado em um objeto de ensino. Nessa primeira transformação, professores e especialistas da área de educação estão envolvidos.

Posteriormente, ocorre a segunda transformação, na qual o professor pega esse conhecimento já modificado e adapte-o de acordo com as características da sua turma.

É de fundamental importância que o professor, como participante da transposição didática, leve em consideração as características dos alunos que compõem a turma: diferenças socioeconômicas, estágio de desenvolvimento, diversidade cultural, dificuldades de aprendizagem, diferenças linguísticas, número de alunos em sala de aula …

O professor deve fazer três perguntas em relação ao conhecimento que você vai ensinar:

  • O que você vai ensinar?
  • Por que você vai ensinar isso?
  • Como você vai ensinar isso?

Como adaptar o conhecimento ao nível dos alunos?

Quando se trata de transformar o conhecimento, isso deve ser feito de uma forma que não seja distorcida ou apresentada de uma forma muito predominante e a essência de seu conteúdo seja perdida. É imprescindível evitar que, na reformulação e simplificação deste conhecimento, se contradiga o conhecimento científico em que se baseia.

É muito importante estar atualizado sobre os conhecimentos científicosVisto que a ciência está avançando muito rapidamente e o que até então era dado como certo, pode perfeitamente ser refutado depois de um tempo. Se o professor não atualizar seus conhecimentos, corre o risco de ensinar conhecimentos que se tornaram obsoletos e enganam seus alunos.

Como exemplo de conhecimento desatualizado a ensinar, temos o já famoso caso de Plutão quando foi relegado à categoria de planetas anões. Muitos livros continuaram a apresentá-lo como o nono planeta do sistema solar por anos.

Abordagem de ensino

O professor deve ter cuidado especial ao ensinar o conteúdo em sala de aula, pois podem ocorrer dois tipos de distâncias:

1. Distância entre o conhecimento a ser ensinado e o conhecimento ensinado

O professor deve estar vigilante que o conhecimento a ser ensinado e o que é ensinado na sala de aula correspondem, Ou pelo menos eles não estão muito distantes em termos de conteúdo principal.

2. Distinguir entre o conhecimento ensinado e o conhecimento aprendido pelos alunos

Os alunos têm uma base de conhecimento antes de adquirirem uma nova, o que pode facilitar ou dificultar um novo aprendizado. muito, o novo aprendizado pode não ter sido devidamente adaptado no nível do aluno.

É muito difícil que todo o conteúdo ensinado aos alunos seja totalmente aprendido. O professor deve levar isso em consideração, além de estimular a motivação e o desejo de aprender nos alunos.

Características

Ao chegar ao final do processo, o conhecimento a ser ensinado apresenta uma série de características que facilitam o seu aprendizado:

1. Desclassificação do conhecimento

O conhecimento a ser ensinado, embora originalmente pertencente a um determinado campo, difere por ser menos específico. Sempre parte do domínio de onde se origina, mas permite que seja formulado explicando conhecimentos mais gerais.

2. Despersonalização do conhecimento:

Todo o conhecimento acadêmico tem um ou mais autores por trás dele. Por se adaptar a níveis menos especializados, destaca-se pelo nome de quem o fez.

3. Programação de aquisição de conhecimento

O conhecimento a ser ensinado foi desenvolvido de tal forma que permite ser apresentado, explicado e concluído de forma clara. Por outras palavras, pretende-se que seja explicado de forma gradual no contexto escolar e para que os alunos o compreendam e aprendam.

4. Publicidade e controle social da aprendizagem

Ao ser modificado para atingir níveis menos especializados, o conhecimento a ser ensinado pode atingir um público mais amplo, permitindo sua exposição na mídia. Graças a isso, um certo controle social pode ser exercido sobre a cultura geral da população.

Referências bibliográficas:

  • Gómez-Mendoza, M. Á. (2005). Transposição didática: história de um conceito. Revista Latino-americana de Estudos Educacionais, 1, 83-115.
  • Chevallard, Y. (1991) A transposição didática do conhecimento científico para o ensino do conhecimento. Editions de Grenoble, La Pensée Sauvage.

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