Muitos autores estudaram a psique humana ao longo da história e muitas escolas de pensamento surgiram.
Atualmente, uma das correntes cognitivo-comportamentais é uma das mais aceitas e valorizadas. No entanto, e especialmente em suas origens, essa corrente tem sido criticada por focar muito no ponto de vista racional e pouco no ponto de vista emocional. Com o tempo, o valor atribuído à emoção aumentou, principalmente graças a escolas como o construtivismo ou teorias como a afeição de John Bowlby.
Outra grande escola de pensamento, que incorporou elementos do anterior para formar um modelo cognitivo-construtivista, é a escola pós-racionalista fundada por Vittorio Guidano. Conhecer a vida de seu principal fundador pode ser interessante para entender o que esse modelo oferece, portanto, ao longo deste artigo iremos uma curta biografia de Vittorio Guidano, Com as principais etapas de sua vida.
Uma breve biografia de Vittorio Guidano
Vittorio Filippo Guidano nasceu em 4 de agosto de 1944 em Roma, Itália. Como farmacêutico, passou grande parte de sua adolescência em Caracas, Venezuela, depois voltou à cidade onde nasceu para continuar seus estudos universitários. Lá fará o bacharelado no Liceu Giambattista Vico, estudo que completará em 1964 com a licenciatura em artes.
Ele então se matriculou e estudou medicina na Universidade de Roma “La Sapienza”. Fez o doutorado em medicina e cirurgia, doutorado que terminará em 1969. Os protestos e movimentos sociais de 1968, porém, o farão se interessar por campos mais sociais e psicológicos. o que acabou levando-o a se interessar pela mente humana e pela psique.
O início de sua ligação com a psiquiatria
Em 1970 recebeu uma bolsa da administração italiana para ingressar no Instituto de Psiquiatria da mesma universidade “La Sapienzia”, dirigido pelo Professor Reda. Nesse ponto Guidano começaria a realizar suas primeiras pesquisas no campo da psiquiatria., Com foco na compreensão da psique humana.
Posteriormente, em 1972, concluiu a especialização em Neuropsiquiatria na Universidade de Pisa e no mesmo ano foi um dos fundadores da Società Italiana di Teràpia Comportamentale e Cognitiva (Sociedade Italiana de Terapia Cognitiva e Comportamental) e posteriormente nomeado presidente do mesmo (local que manterá até 1978). Enquanto trabalhava como tal, continuou a trabalhar com pesquisa na Universidade de Roma, onde foi contratado em 1974.
Mais especificamente, seu trabalho inicial nesta área foi pesquisa metodológica e psicométrica com foco em fatores de personalidade e os efeitos da terapia cognitivo-comportamental da época, naquela época recém-introduzida na Itália.
Essas investigações, que o fizeram ver certos limites, bem como várias teorias que divergiam em parte da abordagem desse modelo (como a condição de Bowlby), levaram-no a desenvolver sua própria maneira de observar a psique humana, iniciando a ‘elaboração de uma identidade modelo de desenvolvimento baseado em paradigmas cognitivos, experimentais e relacionais.
Os primórdios do pós-racionalismo
Em 1976, foi nomeado professor assistente de psicoterapia e psicopatologia da Universidade de Roma, onde ministrou cursos sobre o assunto até 1985. Mas sua atividade profissional não parou por aí: em 1978, fundou o Centro de terapia cognitiva em Roma, instituição que, além da terapia, oferecia treinamento e orientação a terapeutas.
Este centro desenvolveu-se rapidamente e alcançou grande reputação. Em 1981 foi contratado como pesquisador da Universidade de Roma, Um relacionamento que durará até 1986, e já realizou inúmeras conferências em universidades ao redor do mundo.
Durante esses anos começou a trabalhar com Giovanni Liotti, com quem desenvolveria uma das suas obras mais importantes e acabaria por se tornar um dos momentos-chave na fundação do pós-racionalismo: Processos cognitivos e distúrbios emocionais (1983).
Deste trabalho começa a integrar elementos do construtivismo, a teoria do afeto de Bowlby e as teorias de Piaget no desenvolvimento dentro do próprio modelo, no qual passam a transcender e dar cada vez mais importância às emoções na formação da identidade, nas cognições.
Suas investigações continuaram, desta vez enfocando epistemologia e aspectos como empirismo, racionalismo e construtivismo. Ele incorporou uma visão de sistemas em sua teoria, com base em avanços na teoria geral de sistemas e na cibernética.
Assim, ele observou que construímos ativamente nossa própria experiência pessoal a partir do que passamos, algo ao longo do desenvolvimento nos faz gerar uma identidade única, ao mesmo tempo que fazemos parte de um sistema vivo: ele desenvolveu o conceito de organização do sentido pessoal e de estabelecer diferentes vias de organização, que podem levar tanto à normotipicidad como à psicopatologia.
Ele publicou Complexity of the Self em 1987, e outro livro, The Self in Process, em 1991. ele estava começando a falar sobre o conceito de pós-racionalismo como um meio de diferenciar seu modelo (mais focado na subjetividade e na emoção no desenvolvimento da identidade do que na cognição e no raciocínio na teoria cognitivista).
Morte e herança
No final da década de 1990, Guidano começou a se aprofundar no estudo das psicoses, pesquisando e trabalhando esse tipo de transtorno e tentando desenvolver técnicas e terapias específicas para esse tipo de transtorno a partir de seu modelo. No entanto, ele não iria terminar: Vittorio Guidano morreu de um ataque cardíaco repentino em Buenos Aires em 31 de agosto de 1999, Aos 55 anos, para onde havia viajado para assistir a um congresso.
A morte deste proeminente profissional psiquiátrico deixou seu trabalho inacabado, mas, apesar disso, suas contribuições ao longo da vida deixaram um amplo legado: o Pós-Racionalismo é uma escola de psicoterapia que serve de inspiração para muitos autores da corrente cognitiva construtivista.
Referências bibliográficas:
- Jaramillo Ruiz. A. e López Gómez, D. (2017). Breve descrição do modelo cognitivo pós-nacionalista de Vittorio Guidano e sua presença atual nos palcos da psicologia em Antioquia. Revista poiesis, (32), 53-66.
- León Uribe, A. e Tamayo Lopera, D. (2011). Psicoterapia cognitiva pós-nacionalista: um modelo de intervenção centrado no processo de construção identitária. Katharsis, 12: 37-58.
- Nardi, B. e Pannelli, G. (2001). Uma homenagem a Vittorio F. Guidano (1944-1999). Psicoterapia Européia, 2 (1).